7 Palavras Usadas no Candomblé Que Não São Yorùbá

Mo júbà!

No Candomblé, assim como na Umbanda, costumamos escutar várias palavras em idioma que não é o Português e como nossa especialidade é o ensino do idioma Yorùbá, é comum sempre nos perguntarem se determinada palavra está em Yorùbá.

Alguns alunos sempre nos enviam dúvidas sobre o que ouvem nos seus barracões – ilé òrìsà, mas nem tudo é Yorùbá.

Uma Pequena História Sobre a Fundação do Candomblé

Geralmente, por falta de pesquisa dos adeptos, as pessoas desconhecem a história da fundação do candomblé. Fundação é apenas um modo de falar, pois não houve nenhum evento de formalização do culto, que na verdade, podemos falar em organização do candomblé.

No vergonhoso período da escravidão no Brasil, pessoas de diversas nacionalidades e tribos chegaram ao Brasil. Os povos Bantus foram um dos primeiros e quando falamos desse povo falamos daqueles que mais influenciaram a língua portuguesa.

Esse povo teve muita dificuldade em estabelecer cultos aqui. Não diminuindo o sofrimento dos demais, mas esses passaram por coisas terríveis: pesquisem!

Depois, devido a N fatores, como guerras internas na própria África, outros povos foram chegando, mas o povo Bantu foi o que mais tempo permaneceu e que o pior período pegou.

O povo Yorùbá foi o último, já pegando palavras enraizadas e um contexto mais brando para estabelecimento dos cultos, podendo assim, organizar os rituais aos òrìsà.

E, claro, não podemos esquecer dos povos Fon, ou Jèjè, e tantos outros que aqui chegaram, cada qual com sua devida contribuição. Mas nenhuma influenciou tanto nosso idioma quanto os povos bantus.

Acredite, isso foi uma pequena pincelada, com muitas lacunas, sobre a organização do Candomblé no Brasil, mas apenas para que entenda que os períodos dos povos foram diferentes, assim como a pressão sobre eles.

Essas Palavras Não São Yorùbá

Há muitas palavras usadas no Candomblé, até mesmo de raiz Ketú, que não são Yorùbá. Trago aqui aquelas que mais recebo por e-mail como dúvida de tradução. Há muitas outras, claro.

  • Dendê;
  • Maionga;
  • Dofono (Variantes e Sequência);
  • Mukuiu;
  • Izô;
  • Vodun;
  • Maleme.

1 – Dendê

Elemento fundamental usados nos cultos aos òrìsa, a palavras, repito: a palavra dendê não é de origem Yorùbá. Trata-se de uma palavra Bantu.

Em Yorùbá, a palavra que designa o azeite originário palmeira é Epo Pupa (Azeite Vermelho, Óleo Avermelhado)

2 – Maionga

Maionga é o banho ritual que faz uso de diversos elementos, como ervas, isso dentro da cultura Bantu.

Durante o ritual de iniciação no Candomblé Ketú, é muito comum, quase que obrigatório ouvirmos essa palavra, mas em Yorùbá, não a encontramos.

Basicamente, em Yorùbá, banho significa ìwè e banho de ervas we àgbo (leia aqui a postagem que falamos sobre àgbo e o que de fato do que se trata. Clique Aqui!)

3 – Dofono (Variantes e Sequência)

Esse é meio problemático de tratar, pois sempre causa problemas e discordância, mas não estamos falando de ideologias, mas sim de idiomas e o que é, é… O que não é, não é! Simples!

Dofono, Fomo, Gamo, sua sequência e variantes (dofona, por exemplo) são palavras de origem do povo Jèjè, povo do Daomé – Benin, cuja língua é o ewe fòn (endônimoEʋegbe).

A palavra trata da ordem que os iniciados acordam após o ato de iniciação e não uma ordem de acordo com o òrìsà que é iniciado.

Tratei melhor sobre o tema numa postagem somente sobre esse tema, mesmo assim muitas pessoas não compreenderam rs. Clique aqui e saiba tudo sobre Dofono e etc

4 – Mukuiu/ Makuiu! O que significa Mukuiu?

Quando estudamos Yorùbá, muitas formas de expressar uma palavra surgem, muitas vezes por total desconhecimento de pronúncia e escrita.

Isso ocorre também com as línguas de tronco Bantu, mas há certa variante de pronúncia, por conta do que chamamos de dialetos, variantes regionais.

Mukuiu, forma correta Muku iu, é um pedido de benção dentro das nações bantus, mas não se trata de um pedido de bênção nos Candomblé Ketú.

Àwúre é a palavra correta, sem tirar e nem por, para pedir bênção em Yorùbá. Sua resposta é Wúre mi (Minha bênção!)

5 – Izô

Uma curta história: estava eu em um candomblé, quando um rapaz começou a falar que a Oya dele havia passado por um tal teste do izô.

Segundo ele, esse era um ritual praticado em terras Yorùbá e que somente quem de fato estava com Oya poderia passar ileso. Fiquei curioso e perguntei qual era o nome do ritual. Ele reafirmou que era Oya Izô.

Bom, eu o informei que em Yorùbá não falamos fogo com a palavra Izô. Ele pegou fogo (rs) e disse que era impossível e o resto foi a turma do deixa disso ajudando a coisa não pegar mais fogo. Rs!

De fato, Izô não se trata de idioma Yorùbá. Em Yorùbá não fazemos uso da letra Z, sequer temos a sonoridade dessa palavra. Ou seja, qualquer palavra que você ouvir e tiver “Z” não se trata de Yorùbá.

Fogo em Yorùbá é Iná (Lê-se: Inôn)!

6 – Vodun

É comum ouvirmos de mais velhos frases que incluem o nome vodun no meio. Até mesmo havia um programa de rádio chamado: “Acorda Vondunci“. A nova geração não vai saber do que se trata. Rs!

Bom, acontece que associam vodun a òrìsà, vondunci a quem é iniciado ao òrìsà.

Vodun é uma coisa, òrìsà é outra coisa. Assim como nkinse é uma coisa e òrìsà é outra.

Voduns são as divindades cultuadas pelo povo Jèjè, possuindo lendas, fundamentos e elementos próprios. Vemos hoje algumas postagens que tentam simplificar essas divindades como se fossem a mesma coisa que òrìsà. Muito perigo nisso!

Mais um adendo importante para dissociar a palavra vodun do povo Yorùbá: no idioma da Nigéria, não fazemos uso da letra “V” nem temos o som dessa letra.

Gente, falar de vodun merece uma postagem só sobre esse assunto e não sou a pessoa com competência para tal, mesmo com muita pesquisa.

7 – Maleme!!! O que Significa Maleme?

Essa é a campeã de e-mails, directs, messenger que recebo de pessoa buscando o verdadeiro significado.

Uns dizem ser um pedido de desculpas, outro pedido de bênção, outros é um pedido de socorro, de ajuda. Ainda há um tipo de cantiga que se chama Maleme! Ufa! Difícil!

Não achei nenhuma fonte confiável, confesso e não confio em informações desencontradas.

O que se sabe é que sua origem está no idioma kikongo, língua africana falada pelo povo bacongo nas províncias de Cabinda, do Uíge e do Zaire, no norte de Angola; e na região do baixo Congo. Segundo a informaçaõ popular,  Maleime são cânticos entoados para se suplicar ajuda ou perdão. Também chamado de malembe ou maleme.

Segundo Anderson Barbosa Junior, vem do quicongo ma-lembe, “voto de saúde, paz, etc.”, relacionado ao quimbundo ma-lembe “suave”.

Ainda há quem diga que a expressão “Valei-me, Deus!” venha dessa palavra africana.

Conclusão

A verdade é que o Candomblé é uma linda e enorme colcha de retalhos culturais, onde não prevalece determinada cultura.

Cada uma teve um papel fundamental para o que conhecemos hoje, cada qual com seu grau de importância. Mas não podemos, também, descaracterizar cada por conta do todo.

Por isso, hoje em dia é importante sim o resgate de cada cultura e se você é de Jèjè, aprenda o idioma de sua “nação”; se você é de candomblé Angola, vá aprender os idioma de tronco Bantu.

Se você é de Candomblé Ketú, Efon e semelhantes, aprenda sim Yorùbá, que é o idioma base do culto ao òrìsà e permanece cada dia mais vivo, tanto no Brasil como em terras nigerianas.

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