Fotos/ Vídeos no Candomblé. Pode?
Fotografar ou filmar rituais é algo positivo?
Pierre Verger foi um dos personagens que em épocas que não havia as redes sociais ou nem mesmo a possibilidades de se ter acesso a uma máquina de tirar fotos com facilidade, trouxe à lume algumas facetas do Candomblé e de outros cultos através de fotos (Léopold Verger (1902-1996) foi um fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês). Por muitos criticado (normal no candomblé) e por outros ovacionado, Pierre Verger teve seu primeiro contato com o Candomblé em 1948, mas não foi seu primeiro contato com religiões animistas. O mesmo já havia passado pelo Haiti e outras regiões, sempre clicando imagens lindas e eternizando momento belos.
Mas assim como acontece com muitos, o Candomblé o fascinou e ele começou seus cliques imemoráveis e que até hoje cria uma certa divisão de opiniões. Verger ganhou uma bolsa de estudo para fotografar rituais religiosos, viajou para África, iniciou-se tanto lá quanto aqui em diversos cultos (Teve seu orí consagrada ao Òrìṣà Ṣàngó), teve acesso a rituais que muitos nem sonhavam e sonham. E muitas coisas clicadas neste ínterim. No site de sua fundação há muita informação e fotos que esse excelente ícone de nossa religião registrou: www.pierreverger.org/br
E hoje em dia?
Hoje em dia, com a possibilidade de se tirar fotos cada vez mais fácil com um simples celular, um simples toque na tela, a internet ficou lotada de registros por vezes belos e por outras vezes nada interessantes para a religião, lotando as redes sociais de coisas por vezes toscas e desnecessárias. Muito se critica o excesso de fotos e vídeos gravados, isso tudo porque algumas pessoas querem expor demais a religião, como por exemplo, ìyáwó no seu recolhimento tirando selfie, ou, um caso que um ìyáwó tirou foto do outro ìyáwó sendo raspado.
Pierre Verger também tirou fotos fortes como a que podem ver abaixo. Fortes para quem não é do meio, fortes para quem não entende a essência e origem tribal da religião. Mas os meios antigamente eram outros e as finalidades também eram outras. Verger estava inserido em um mundo totalmente novo até para ele e sua função era também de pesquisador, mas o que vemos hoje em dia são fotos banais, sem fim nenhum.
Assim como no Brasil, no Benin ele também fotografou rituais o que para muitos, aqui em terras brasileiras, seriam secretos e para poucos, mas que muitas vezes, na verdade, eram realizados em praça pública. No entanto, ele também conheceu os lados secretos, sendo esses respeitados e não fotografados ou publicados, como boa parte de sua vida no Ifá e culto de Bàbá (Ancestralidade masculina)!
Está Beneficiando ou Não?
Têm casas que não permitem fotografias ou filmagens nem mesmo em festejos e comemorações. Soube de casas em que os Òrìṣà são orientados a largar o ìyáwó ao ver um flash em sua direção e que Ògá são orientados a pararem os atabaques enquanto a pessoa não cessarem com o ato de fotografar ou filmar.
Claro que para muitos é um momento para se guardar além da memória, como um casamento ou festa de 15 anos. Uma iniciação ou o dia de dar o nome em público, uma festa de 7 anos ou 21 anos de iniciação, são realmente datas importantes para quem é de dentro do Candomblé. São aquelas fotos bonitas, com o salão arrumado, os filhos empenhados, os Òrìṣà dando o seu melhor e todos felizes com aquele momento. Acho válido fotos e filmagens para este fim.
Mas fotos gratuitas, sem fim, como Ìyáwó dentro do “roncó” ou até mesmo um vídeo que soube que uma mulher ensina passo a passo uma feitura, com corte de animais e tudo… creio ser demais. Outros registros só servem para desmerecer a própria religião, pois como disse em uma postagem – os inimigos vestem branco – e estão mais próximos que os pastores fundamentalistas que acham que tudo é diabo.
E na sua opinião, devemos fazer uso de fotos e vídeos assim sem fim, sem motivos, apenas para registrar os momentos do dia-a-dia do Candomblé? E como fica a exposição em redes sociais principalmente com grupos que visam justamente caçoar destas fotos e filmagens? Detalhe: estes grupos são criados pelos próprios iniciados e muitos zeladores de nome e conhecimento participam!!
Ó dàbọ̀!
Quer aprender mais sobre o idioma mágico do Candomblé? O idioma do
òrìṣà, mas de uma maneira correta e sem misticismo? Conheça nosso cursos abaixo: Curso Fundamentos do Idioma Yorùbá! O que está incluso no curso:
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Olá!
Acho legal as fotos e filmagens p guardar de lembrança do momento e não para divulgação na Internet. Na Internet pode ser a foto de um orisa dançando, sentado, nada demais, nada que possa afetar nossa religião, principalmente por quem não entende e não sabevda essência, dos motivos de ser daquele jeito.
Verdade, as vezes uma foto a gente até entende, mas quem não conhece pode maldar e achar estranho.
Grato pela opinião 🙂
Até o achar estranho, tudo bem… vai de cada um.
O problema é usar isso contra nós mesmo, como acontece em tantos lugares. Aonde invadem, destroem os lugares, quebrando tudo e ainda apelam para política para tentar acabar com a religião.
Temos que preservar o sagrado de forma consciente. Por isso que hoje em dia, em muitos lugares já não tem aquela energia pura. Pq o Órísà é simplicidade, energia pura. Para muitos o que importa é luxo é fazer bonito na sala p os outros. Dessa forma acabam banalizando. Temos que lutar contra toda essa palhaçada que muitos fazem por aí, para tentar voltar nem que seja aos poucos para realidade da nossa religião aqui no Brasil que na África é cultura.
Boa tarde
Gosto muito das suas postagens e ensinamentos , não concordo com fotos e filmagens da forma como está sendo colocada. Acredito que os Zeladores atuais teem uma grande parcela de culpa por deixarem isso sair de dentro dos Axés. A magia , o encanto e a beleza da nossa religião está ficando banalizada pela modernidade em excesso…pronto falei…um abraço.
Verdade Lucy. O zelador é o líder do barracão, ele quem deve manter controle nisso.
Obrigado pela sua participação e acompanhar o blog!
Grande abraço!
Oque incomodar é a banalização, a exposição de algo intimo. as vezes tem foto de seu orixá nas redes sócias e o próprio vodunce nem sabe, olha que loucura. acho que a liberdade que os mobile trouxeram, invade um pouco o espaço religioso.
tudo depende da forma, da permissão e ter a consciência para não sair tirando foto como se orixá fosse quadro em exposição.
fotos só para comemorações e mesmo assim com bom-senso.
belo site.
Muito obrigado pela opinião Roberto. Seja sempre bem vindo.
Boa tarde, que os Orixás abram nossos caminhos!
Sou iniciada há pouco tempo, 4 anos para ser mais exata, e nesse período tenho observado muito a banalização de fotos de vídeos dentro do Candomblé circulando na internet. Claro que, há momentos lindíssimos registrados em festividades, publicações maravilhosas de Mães, Pais, irmãs e irmãos que se dedicam em escrever e desmistificar muitas coisas sobre a religião, e ter isso ao alcance de pessoas que não conhecem o Àse é importantíssimo para a diminuição do preconceito. Mas também já vi muita coisa que me chateou.
Mesmo sendo uma recém nascida no Candomblé, acredito que o Fundamento, o Sagrado, a Tradição em sua essência nunca deve ser exposta dessa forma. E não é publicando momentos de feitura, orôs, fotos do quartinho de santo, dentre outros segredos, que vamos espalhar de maneira saudável a mensagem que os Orixás nos ensinam. Candomblé é para ser vivido.
As festividades são só o resumo de todo um trabalho de fé e dedicação que envolve uma casa inteira, e apenas isso deve ser mostrado em sites de relacionamento.
Essa é minha humilde opinião como Yawô que ainda está nos seus primeiros degraus de evolução, e muito obrigada por compartilhar esse ótimo texto.
Asé.
Káàbo (Seja bem vinda)
Grato por expor sua opinião e é bem isso. Muito da beleza de nossa religião está no mistério, a outra parte está nos belos festejos, cantos e toques.
Que sua caminhada na vida dos òrìsà de prosperidade e fartura.
Bom dia. Parabéns pelo texto. Sobre permitir ou não fotografias, isso é uma questão das regras de cada Ilê, Nzo ou Abassá. Nas casas matrizes Ketu de Salvador como Casa Branca, Gantois e Opo Afonjá não se permitem fotos nem filmagens, mas muitas casas filhas destas já permitem. Para mim o segredo está no axé veiculado e isso fotografia nenhuma registra. Podem fotografar a hora de cortar os bichos, de derramar o ejé no ori, de beber o ejé, de cobrir o corpo com penas (tudo que estou escrevendo aqui tem em fotos, não estou falando nada que não esteja iconografado). A energia que é veiculada nestes momentos não é registrada, assim como a energia invisível do orixá que está nos ibá e no ori do iniciado nestes momentos. A grande questão é: quais são os objetivos e finalidades das fotografias e filmagens? É para seu acervo pessoal, para ganhar dinheiro ou para ostentar nas redes sociais? Para quem coloca o Orixá/ Vodun/ Inkise acima de tudo o mais coerentes seria perguntar a eles no jogo ou quando estivessem incorporados: “O (A) senhor (a) permite fazer fotografia? E de acordo com a resposta da entidade fazer ou não o registro.
Muito bem exposto!
Boa tarde , acho legal para guarda de lembrança uma data tão especial não para expor a religião como a gente ver erradamente.
Eu acredito que a parte pública do candomblé pode e deve ser divulgada, para que o povo veja que não é nenhum ritual satânico, porém a parte restrita aos iniciados, deve continuar restrita, pois o público não está preparado.
No meu ponto de vista a tecnologia deve ser bem utilizada, o que eu quero dizer com isso? Atualmente possuímos a facilidade em fazer gravações que podem auxiliar em um aprendizado de novas cantigas, imagens de folhas e seus nomes, para difundir determinados conhecimentos, porém ai é onde considero estar o maior perigo … como já dito em um comentário anterior devemos preservar o sagrado, existem segredos e mistérios que só devem ser transmitidos e conhecidos por aqueles que receberam a luz … foram iniciados … até para nos preservamos, preservarmos a tradição, a ritualística e honrar todos os esforços feitos por nossos ancestrais e não jogar tudo isso por água a baixo ao divulgar conhecimentos sagrados e que podem ser utilizados de má forma ou até mesmo para “agredir” nossa religiosidade. em caso de festas .. ou “saída” das iniciações ou “feituras” seria interessante filmar, mas por pessoas de dentro da casa ou pessoas autorizadas e de confiança, por que digo isso ? infelizmente hoje me dia sofremos com “falsos iniciados” e muitas vezes uma gravação da “saída” seria o suficiente para comprovar um iniciado em “terras alheias”. Então sou a favor de um uso moderado de fotos e filmagens em festas e sou contra o uso em ritualísticas e fundamentos.
Quem conhece o trabalho de Pierre Fatumbi Verger, sabe da seriedade e envergadura de seu trabalho, tanto fotográfico quanto etnológico e antropológico. Além de ser um sacerdote de alto grau tanto aqui no Brasil quando na África, ele somente teve acessos rituais, fotografou e registrou de maneira documental, pois nunca quebrou e desrespeitar o sigilo, fundamental para qualquer Axé. Só chega tão longe quanto ele chegou, pelas mãos de Orixá e a boca fechada. Tenho profundo respeito pelo trabalho dele.
Compreendo também a necessidade das pessoas registrarem seus momentos dentro de uma casa de Santo, ao passo que possibilita e populariza a divulgação do culto, pode também gerar equívocos aos olhos do observador e logo tudo se enche de lendas absurdas; creio que a imagem deva estar inserida dentro de um trabalho documental, ou no mínimo carregar um texto sério sobre a temática, além de e ser bem feita, se não… ela realmente fica solta gerando especulações. Agora, fazer selfie dentro do ronco… pfv, né Brasil! Não dá pra fazer uma foto bem feita e praticar um ritual, não existe isso, são momentos distintos que requer atenções e intenções diversas.
Sobretudo, acho que é fundamental respeitar o que a ancestralidade diz com relação aos segredos dos cultos, respeitar o Axé da casa, e ter autorização do sacerdote sobre o quê e quando fotografar.
Orixá é coisa séria, coisa que não se brinca.
Particularmente eu não vejo nenhum tipo de problema com fotos e vídeos do terreiro, dos membros da casa ou até mesmo de uma festividade. Porém, acho uma falta de respeito ao sagrado, qualquer tipo de gravação ou registro, feito em rituais restritos, como por exemplo o registro de um Iyawo ou Muzenza na hora em que o mesmo se encontra recolhido, ou então registros diretos dos Orixás, Minkisi e Voduns, quando estão em terra.