7 Lições Que Todo Bàbá/ Ìyálórìṣà Deveria Passar Para o Ìyáwó

Mo júbà, como vai?

Aqui Olùkọ́ Vander trazendo uma postagem que na verdade é a resposta para um e-mail que recebi, recentemente, de um zelador que iniciou seu barracão – Ilê Orixá ou Ilé òrìṣà!

Basicamente, ele indagou-me como ele poderia ajudar no crescimento de seus filhos de santo, ọmọ òrìṣà. Ele não queria apenas um barracão cheio e toques, festas lotadas e luxuosas, saídas e obrigações cheias de pessoas e com muita bebida (Parece que para alguns isso seria a definição do sucesso como zelador ou zeladora, não é?).

Então, listei para ele, deixando claro que é somente uma opinião e baseada no contato que tenho com milhares de pessoas ligadas ao Candomblé e Umbanda que andam muito insatisfeitas, com seus filhos prósperos, as 7 principais lições.

As 7 lições para ser bom líder em um Candomblé se baseiam um pouco em outras postagem que já fiz…

Mas são:

  1. Seja Íntegro;
  2. Humildade;
  3. Não Fale o Que Não Sabe;
  4. Conheça Sua Religião;
  5. Honre Suas Raízes (Quando Possível);
  6. Seja Exemplo Dentro e Fora do Barracão;
  7. Busque Conhecimento Sempre.

7 Lições Que Todo Bàbá/ Ìyálórìṣà Deveria Passar Para o Ìyáwó

1 – Seja Íntegro

Integridade, segundo o site Wikipedia: “Integridade vem do latim integritate, significa a qualidade de alguém ou algo a ser íntegre, de conduta reta, pessoa de honra, ética, educada, brioso, pundonoroso , cuja natureza de ação nos dá uma imagem de inocência, pureza ou castidade, o que é íntegro, é justo e perfeito, é puro de alma e de espírito.”

Um zelador íntegro seria aquele que o nome não está na praça (injustamente, claro); que age de maneira justa com seus iniciados e futuros iniciados, clientes. Não ataca a casa ou o nome alheio.

Um Pai de Santo ou Mãe de Santo que realmente tenha filhos e não somente números. Que faça o básico dentro da religião: iniciar pessoas que desejam ou que devam ser iniciadas ao òrìṣà, ser honesto nas respostas dos búzios não criando situações para tirar ẹbọ caros, consequentemente cobrar mais e não inventar fundamentos e coisas no orí dos outros.

Não agir com interesses escusos, tramando coisas para tirar filhos de santo de outros barracões; não ficar com fofocas principalmente se for de outros líderes de outro barracões. Muito comum ver o zelador difamando outros líderes das outras casas, até mesmo menosprezando as práticas de lá.

Ser justo e não passar a mão na cabeça de uns enquanto outros aprontam e nada é feito ou falado. Assim como evitar tratar melhor quem tem mais dinheiro em relação a quem tem menos, motivo que tira muita gente de barracões – Leia aqui sobre >>> Filhos de Santos Sem Barracão.

Integridade deve ser a máxima até mesmo na vida profana, comum e não somente quando se veste a farda religiosa para a batalha espiritual.

2 – Humildade

Estar na posição que se está – Pai de Santo ou Mãe de Santo – não é um prêmio que te faça melhor que ninguém.

Não há pedestal enquanto se está na lida diária, louvando os òrìṣà, ajudando os filhos de santo, os clientes, enxugando as lágrimas daqueles que lhe confiaram o orí, lhe confiaram problemas por vezes sérios.

A humildade está presente em grandes nomes do Candomblé, tanto os vivos quantos o que já se foram e, o que você verá, será uma pessoa simples que apenas é endeusada pelos que estão ao redor, pois eles mesmos se sentem pessoas comuns.

Pai de Santo ou Mãe de Santo deve sempre lembrar que quando vira, incorpora em seus orixás, fica de pés nos chão, em contato com a terra. Não há salto, tamanco, plataforma…. pedestal: os pés estão no chão.

Então, por mais tempo que se tenha dentro da religião, demostre a humildade de quem sempre tem a aprender, a conhecer. Sempre há alguém acima. Se não for na terra, é lá no ọ̀run. Reflita e passe isso para seus iniciados, pois eles terão suas casas também.

Humildade não é ser menos, infelizmente muitos trazem essa imagem na cabeça. Mas só os humildes são os fortes e poderosos.

3 – Não Fale o Que Não sabe

Sempre haverá quem saiba mais que você em algum assunto, compreenda isso.

Não é vergonha não deter todo o conhecimento do mundo dos Orixás. Por mais que jogue búzios há anos, sempre tem os Bàbáláwo, conhecedores dos segredos dos oráculos. Sempre há alguém com uma visão melhor, base melhor.

Por mais que você ache que saiba tudo de ervas, cuidado, há conhecedores maiores ainda na Nigéria e até no Brasil. Muitos desses conhecedores não levantam bandeiras de maiorais… são humildes!

Mantenha isso em mente e sempre explique isso a seu filhos, é importante que também eles não endeusem sua imagem.

Eu dou aulas de Yorùbá e por vezes os alunos do Curso de Fundamentos do Idioma Yorùbá  me fazem perguntas de coisas que não sei, mas vou em busca para poder responder. Há doutores no idioma, mestres que têm o idioma de berço. Não posso me colocar como melhor nessa área, por mais que esteja desde 2008 dando aulas e desde 2003 estudando.

Há uma prática errada nos Candomblés hoje em dia: os líderes não querendo perder poder, inventam, alteram e espalham coisas que não são verdades. Vejo isso em lendas de orixás (ìtàn), cantigas (orin), fundamentos (orò) e por aí vai. Tudo pelo medo de dizer: – Não sei isso!

Tudo para não ficarem com a cara de quem não sabe de algo: Não Fale o Que Não Sabe.

Se não sabe, deixe claro para seu filho de santo que irá buscar saber a respeito ou até mesmo indique quem saiba, não tenha medo de perder um filho só por causa disso. Ele pode, justamente por esta atitude, lhe admirar ainda mais.

4 – Conheça Sua Religião

Dentro do Candomblé e também da Umbanda é comum se ver explicações bizarras para coisas que com simples pesquisa se responde. Hoje temos a internet, antes tínhamos/temos os livros e antes os mais velhos, mas nunca esqueça o senso crítico.

Um coisa que vejo hoje são as pessoas da religião, não todas, tendo aversão às explicações muito técnicas e longas. Preferem explicações curtas e romantizadas. E isso é ruim quando se tem uma cultura tão forte, com tantas nuances, fases e personagens como a cultura negra aqui no Brasil. Sem contar a história lá na África, com suas batalhas, revoltas, golpes, reinos em queda e tudo o mais.

Tudo elas acham que uma conversa na saída de um Candomblé (geralmente sob efeito do álcool)se explica, ou um comentário no Facebook com as famosas enquetes.

Nem tudo se explica com religião, com òrìṣà, com lendas e etc. Há fatos históricos, há questões que estudando se entende. E se isso fosse aplicado, no mínimo estudado, entenderiam porque tantos homens usam por exemplo: pano de cabeça e ààjà (Adjá quando aportuguesado).

Leia sobre o pano de Cabeça nessa postagem – Clique Aqui!

Entenderiam como um Bàbáláwo influenciou o jogo de búzios que temos hoje no Candomblé  e isso geraria ainda mais discussões, quebrando por exemplo a questão: Ògá ou èkéjì podem jogar búzios?

Então, busque, pesquise sobre o candomblé. Quem foram as três senhoras que mudaram o rumo do Candomblé (Não, não tem nada a haver com as bruxas… pense em questões históricas, fatos históricos). Deixem um pouco o folclore de lado e busquem literaturas históricas.

Um pai/ mãe de santo tem que buscar ser um manancial de informações de sua religião e hoje, com internet e sebos, você pode aprender muito e passar o conhecimento adiante.

Informação está lá, só buscar. Conheça sua religião… faça esse favor a você mesmo(a)!

5 –  Honre Suas Raízes Quando Possível.

Qual a sua linhagem religiosa? Quem é seu avô de santo e a história dele? Qual seu axé/ àṣẹ e o que nele não é bem visto? Quais os fundamentos do seu àṣẹ?

Candomblé não tem nomes como pai, mãe, filho e etc à toa. É uma família e apesar de hoje em dia isso não ter muito valor, perdermos valores morais até mesmo nas famílias sanguíneas, busque saber mais da sua espiritual.

Tente não fazer coisas que dentro de seu àṣẹ não seja permitido. Isso se chama respeitar o àṣẹ, a história dele e sua energia espiritual. Conheça e tente manter contato com as pessoas de seu àṣẹ, não só o barracão.

Um iniciativa interessante seria um grupo no Facebook com todos não só do barracão, mas do àṣẹ inteiro. Unindo barracões, zeladores e zeladoras que sejam todos do mesmo seguimento.

Por que “Quando Possível”?

Eu sei que hoje em dia, talvez antigamente também, as pessoas não se fixam em casas de santo, rodam de mão em mão. Mas quando sair de uma casa ou de um àṣẹ, não chegue no outro falando cobras e lagartos. Até porque, se você faz isso com o que saiu, quem garante que não irá fazer com o atual quando sair?

Todos são falhos, então se tiver alguma insatisfação, tente manter para sí e mostre a parte boa (deve ter tido, por favor).

6 – Seja Exemplo Dentro e Fora do Barracão

O que adianta você ser um exemplo de zelador dentro do barracão; tratar todos com educação e zelo, mas na rua humilhar um mendigo? No trânsito xingar a todos e se achar o dono da rua? Viver devendo e podendo pagar, mas evitando o fazer.

Eu sei, aqui algumas pessoas já deve estar assim: – Nossa, Olùkọ́ Vander achar que ser pai/ mãe de santo é ser um anjo de candura, não é?

Não, estou apenas dizendo que a pessoa deve ser sim um exemplo para a sociedade e para quem lhe confiou a vida espiritual. O cargo, posto, função sobe à cabeça e a pessoa acha que além de mandar dentro do barracão, também manda nos da rua, se acha superior aos da rua. Faça uma pequena pesquisa de como deve ser a conduta dos devotos de òrìṣà na Nigéria e depois me diga!

Você diria para seu filho de santo não trair a esposa, mas manteria um caso extraconjugal? Isso se chama incongruência. Exigir respeito dos iniciados, mas na rua desrespeitar os demais. Incongruência!

Vejo muitos adolescente que pegam todos os trejeitos, falas e características de seus pais de santo. Bom isso, mas e quando ele traz as características erradas: agressões ao filhos recolhidos, humilhações em público, mentiras e etc? O filho, aqui o adulto mesmo, não precisa ser criança, acaba seguindo as atitudes do zelador e não as palavras.

Lembrando que há ìyáwó que realmente cultua mais seus zeladores do que o seu próprio òrìṣà. Leia mais sobre isso na postagem que fiz recentemente – A Fé Dentro do Candomblé: Quem você Cultua?

7 – Busque Conhecimento Sempre

Citei duas dicas que envolvem conhecimento, estudo – Não Fale o Que Não Sabe e Conheça Sua Religião – e aqui eu gostaria de sintetizar melhor isso.

Que o Candomblé é uma religião de prática, de mão na massa, disso sabemos. Não é uma religião teórica. Porém, isso não quer dizer que não tenha conhecimentos teóricos para se obter e que sim, ele pode ser de muita valia para o pai de santo ou mãe de santo.

Há um preconceito vigente na religião, o de que o que se aprende em cursos e apostilas é algo sem valor. Só é certo o que se aprende de um zelador. Nada mais equivocado!!!

Caso por exemplo: como o Candomblé surge no Brasil? Caso seu zelador não saiba, você não pode pegar um livro para estudar???

É simples para qualquer um falar que foi através do tráfico negreiro ocorrido no período colonial e que assim eles mantiveram suas práticas e cultura aqui como forma de resistência e também sobrevivência.

Mas complica se a pessoa perguntar sobre o porque de haver diferentes nações e por que se chamam nações de Candomblé?

Se perguntarem sobre o sincretismo religioso? Sei, vão responder sobre disfarçar imagens pois eram proibidos de praticar a própria religião. Será que é só isso? Busque aprender mais!

Já buscou saber o que obrigações de anos no Candomblé tem de ligação por exemplo com as cartas de alforria? Sobre este assunto dei uma pincelada – Obrigação no Candomblé: Tudo Que Você Precisa Saber!

Agora, algo que mais me deixa pasmo: a língua!

Dentro do Candomblé não se canta em Português, mas sim nas línguas nativas da região de onde veio aquele culto. As pessoas cantam, respondem e dançam, mas você sabe o real significado? De cada 100, apenas uns 6 diriam que sim e olhe lá.

Não conhecer o idioma em que se canta para mim sempre foi o que mais não entrou na cabeça. Não tem a ver com religião, com tempo de santo, com obrigações tomadas ou não… tem a ver com querer saber o que é aquilo. Conhecimento cultural!

Nomes de Ìyáwó são em Yorùbá, nome dos barracões em Yorùbá, os utensílios em sua maioria Yorùbá, os cargos e postos também estão em Yorùbá. Rezas, cantigas, saudações, os nomes dos Orixás em Yorùbá e você… Sabe Yorùbá?? Claro que há outros idiomas, mas minha área é o Yorùbá. A sua qual é? Ewe Fòn, Bantu?? Busque! Estude!

E não, não digo saber os termos que é dito dentro de barracão que carregam vícios medonhos. Muitos acham que conhecendo as gírias de barracão as fazem conhecedoras do idioma… ledo engado!!

Como bom pai de santo, você deveria ser um conhecedor intermediário/ avançado do idioma. Saber no mínimo como pronunciar algo ao ler! Conseguir passar para seu filho um pouquinho daquilo que ele pode até mesmo usar quando for defender a religião.

Recentemente fiz uma postagem fazendo uma pergunta sobre o idioma, coisa simples. Uma menina marcou seu zelador e perguntou a respeito. Sua resposta foi drasticamente errada e para piorar, justificou dizendo que o que ele disse foi aprendido com seus mais velhos e assim por diante.

Bom, essas dicas acima dei para meu amigo e ele ficou muito feliz. Delas nasceu essa postagem que inclusive foi uma ideia dele e não estou tentando aparecer como alguém superior, mas quem olha de fora com o senso mais crítico e que converso com muitas pessoas insatisfeitas com a religião que andam destruindo com o ego!!

Por aqui fico… Ó dàbọ̀!!!

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